Eis a íntegra da nota da Diocese:
1. Nesses dois últimos dias, a cidade de Garanhuns foi tomada por -ulna discussão em tomo de uma peça teatral que está na programação do Festival de Inverno de Garanhuns — 2018. Trata-se da peça "O Evangelho segundo Jesus, rainha dos céus" (IIE GOSFI according to Jesus, queen of heaven): escrita pela atriz transexual escocesa Jo ClifTord; dirigida, no Brasil, por Natália Mallo; e encenada pela atriz transexual Renata Carvalho.
2. Estão em jogo dois grandes valores presentes na Constituição Federal da República do Brasil: l) a liberdade de expressão intelectual, artística, científica e de comunicação, conteúdo do Art. 50, IX; 2) e a inviolabilidade da fé e da crença, estabelecida no mesmo artigo quinto, inciso VI, e ratificada no Código Penal Art. 208, quando trata dos crimes contra o sentimento e contra o desrespeito aos mortos. O Art. 208, do Código Penal, normatiza claramente o crime de vilipêndio público às religiões e especificamente contra um ato religioso. Isso acontece, na peça- em relação à imagem de Jesus Cristo e à Eucaristia. Compreendemos que a liberdade de expressão artística não pde ferir o sentimento religioso e a identidade cristã de uma inteira população.
3. O título da peça apresenta dois evidentes equívocos, que nem a liberdade artística permiti: 1C) o Evangelho nunca é "segundo" Jesus, pois Jesus mesmo é o Evangelho e o mensageiro dessa boa e esperançosa noticia a humanidade; 2º) apresentar Jesus como rainha dos céus - Ora, Jesus era homem. Em nenhuma fonte bíblica ou historiográfica jamais se ousou apresentá-lo como mulher, e muito menos como transexual. Não seria razoável, por exemplo- apresentar a rainha Cleópatra como homem, vivendo um caso homossexual com Júlio César ou Marco Antônio- A pergunta que se deve fazer é: até onde a arte tem a liberdade para ressignificar papéis? Escrever palavrões em hóstias é arte? Está ressigaificando alguma coisa? Um homem nu que rala uma imagem de Nossa Senhora Aparecida com um ralo de cozinha e recolhe os fragmentos numa gamela, isso é arte? O que estaria ressignificando? O que seria razoável para a arte na tarefa da ressignificação e, ao mesmo tempo, no respeiito às pessoas e às suas sensibilidades?
4. Creio tanto o Governo do Estado de Pernambuco por meio da Secretaria de Cultura e da Fundarpe, quanto o Governo Municipal de Garanhuns perdem a oportunidade de impostar a discussão sobre outra perspectiva- O nosso país é o que mais mata homossexuais, travestis e transexuais no mundo. Ao mesmo tempo, é o país que mais consome sexo e pornografia- O Município de Garanhuns está entre os campeões no quesito "violência contra a mulher". A nossa terra é uma terra que covardemente mata mulheres. O que o Governo Estadual e o Governo Municipal podem fazer pra amenizar e, em médio e longo prazos, resolver essa triste situação? Trazer peça teatral que fere a sensibilidade das pessoas simples da nossa terra? É isso que vocês podem fazer? É respeitoso para com a Cidade de Garanhuns o discurso do Secretário de Cultura? Isso constrói uma cultura de paz e diálogo? E respeitoso o modo como a Fundarpe trata a preparação do Festival de Inverno e o diálogo com as instituições parceiras, inclusive com a Diocese de Garanhuns por meio da Paróquia da Catedral, onde o Palco de Música Clássica Instrumental?
5. Lamentamos também profundamente que essa discussão possa ser utilizada para fins eleitoreiros. Já basta! O conflito entre o Governo Estadual e o Governo Municipal de Garanhuns, e vice-versa, só vem diminuindo a nossa terra, só tem nos prejudicado, só tem inviabilizado investimentos e a resolução dos graves problemas do nosso povo que tanto sofre. É hora de serem estadistas! Olhem para o nosso povo sofrido, humilhado, vivendo uma das piores crises sociais, econômicas e éticas de todas as épocas. Não olhem para as situações com os mesquinhos de uma sigla partidária e de uma campanha eleitoral. E vou até adiante: é a hora de pensar Garanhuns. E razoável, por exemplo, que uma cidade de 140 mil habitantes não tenha um Deputado Estadual e um Deputado Federal? É hora de pensar o Município de Garanhuns e as redondezas. Paramos no tempo- Temos perdido oportunidades.
6. Por tudo isso, não concordamos de nenhum modo que a peça seja apresentada em Garanhuns no Festival de Inverno. Não é disso que necessitamos. Ao mesmo tempo, já afirmo: não entraremos em nenhuma frente para impedir que a peça seja apresentada. Se for, Senhor Governador, o senhor está ferindo profundamente a nossa gente. Duas únicas coisas, eu posso fazer como bispo da Diocese de Garanhuns: conclamar o povo católico a não tomar parte nesse acinte e proibir que a Igreja Catedral seja utilizada como um dos palcos do Festival de Inverno 2018.
7. Que o Espirito Santo de Deus nos ilumine para encontrarmos dialogadas e que gerem verdadeiramente uma cultura de paz.
Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa
Bispo da Diocese de Garanhuns